25 julho 2017

A RECICLAGEM NA CADEIA PRODUTIVA DA CONSTRUÇÃO


O acelerado desenvolvimento da economia neste século tem ocasionado um aumento expressivo da geração de resíduos sólidos. Historicamente, a atividade construtiva sempre se caracterizou como grande geradora de resíduos, além de ser potencial consumidora dos resíduos gerados por ela ou por outras atividades. Assim, torna se inevitável o desenvolvimento de políticas que estimulem o tratamento e reutilização dos RCD, visto que os recursos naturais são finitos e estão cada vez mais escassos, como pôde ser comprovado nas postagens sobre  (IMPACTO AMBIENTAL DA CADEIA PRODUTIVA DA CONSTRUÇÃO).

A RECICLAGEM NA CADEIA PRODUTIVA DA CONSTRUÇÃO
A RECICLAGEM NA CADEIA PRODUTIVA DA CONSTRUÇÃO

A reciclagem de resíduos da própria construção vem sendo praticada há milênios. Porém o uso de RCD só se intensificou após a Segunda Guerra Mundial, principalmente na Alemanha, devido à enorme demanda por matéria prima.

Apesar da Alemanha ter sido uma das precursoras, esta prática também é bastante difundida em toda comunidade européia. De acordo com Pinto (1999) em praticamente todos os países-membro da comunidade européia existem instalações de reciclagem de RCD, normas e políticas específicas para este tipo de resíduo, além de um esforço mais recente para consolidação de normativa única para toda a comunidade. No Japão e nos Estados Unidos esta prática também tem sido bastante difundida e utilizada.

Já no Brasil a reciclagem dos resíduos de construção e demolição é bastante recente. Alguns estudos foram realizados e paralelamente a estes, no início da década de 80, se difundiu o uso de “masseiras-moinho”, equipamento de pequeno porte que possibilita a moagem intensa de resíduos menos resistentes para reutilização. O resultado da sua utilização é bastante positivo, pois induz à segregação dos resíduos na obra, contribui para a minoração do impacto ambiental dos RCD nas áreas urbanas, reduz o consumo de agregados naturais, além de contribuir para a redução da emissão de poluentes.

De acordo com Pinto (1999), em relação a equipamentos de maior porte, a experiência brasileira é mais recente, tendo sido iniciada em 1991. A instalação destes equipamentos aconteceu em alguns municípios como resultado de planos de gestão dos RCD e, em outros, como simples aquisição de equipamentos descoordenada de um planejamento de ações, o que inevitavelmente compromete os resultados a serem alcançados, eliminando em alguns casos qualquer impacto positivo da presença destas instalações.

Hoje em dia observa-se em alguns municípios a presença de unidades públicas, como em Belo Horizonte, ou privadas, como em São Paulo para reciclagem de resíduos. Em Belo Horizonte, os agregados reciclados são usados para confecção de meio-fio, base e sub-base de pavimentos. Em São Paulo, a distância para as pedreiras e mineração de areia eleva o custo do agregado natural e justifica a existência de algumas áreas para reciclagem privadas.

Vantagens da Reciclagem

Como principais vantagens da reciclagem, tem-se:

• preservação de recursos naturais com a substituição destes por resíduos, prolongando a vida útil das reservas naturais e reduzindo o impacto ambiental;
• redução da necessidade de áreas para aterro devido à diminuição do volume de resíduos a serem depositados;
• redução no gasto de energia, seja para produção de um novo bem, seja com o transporte e gestão do aterro;
• geração de empregos com o surgimento das empresas para reciclagem;
• redução da poluição emitida com a fabricação de novos produtos; e
• aumento da durabilidade da construção em determinadas situações como, por exemplo, na adição de escória de alto forno e pozolanas ao cimento.

Barreiras da Reciclagem de RCD no Brasil

A reciclagem de RCD no Brasil, se compararmos a países de primeiro mundo ainda é bastante tímida, porém possui um enorme potencial de ampliação.

Esse atraso em relação a outros países se dá por diversos fatores. Um deles é que a questão ambiental no Brasil ainda é vista como um problema de preservação da natureza, focado principalmente nas florestas e animais em extinção, deposição de materiais em aterros controlados e controle da poluição do ar, com o estado exercendo o papel de polícia. A Lei Federal de Crimes Ambientais de 1998 é uma prova disso, revela um estado muito mais preocupado com punições a transgressões, em vez de trabalhar os diversos agentes na promoção da redução do impacto ambiental das atividades através da reciclagem por exemplo (JOHN, 2000).

Algumas outras barreiras são:

• dificuldade de introdução de novas tecnologias na construção civil;
• concepção errônea que um produto confeccionado com a utilização de resíduos possui qualidade inferior a outro confeccionado com matérias primas virgens;
• sensação de risco de baixo desempenho com relação ao uso de novas tecnologias;
• custo baixo dos agregados naturais; e
• falta de cultura para segregação de resíduos.

Exemplos da Reciclagem de RCD no Brasil

Algumas cidades brasileiras já têm adotado uma gestão diferenciada para os RCD. A seguir são apresentados alguns exemplos de práticas já adotadas.

O Caso de Belo Horizonte - MG

A cidade de Belo Horizonte é uma referência em se tratando de reciclagem de RCD no Brasil. Implantado desde 1993, o plano de gestão diferenciada, na época denominado Programa de Correção Ambiental e Reciclagem dos Resíduos de Construção, definiu ações específicas para captação, reciclagem, informação ambiental e recuperação de áreas degradadas.

Este programa fez parte de um pacote maior de ações que constituiu o Modelo de Gestão de Resíduos de Belo Horizonte. Nele definiu-se a necessidade de uma rede de atração com 9 áreas e 4 centrais de reciclagem. O processo de implantação dessas unidades foi iniciado em 1995 e em 1999 tinha evoluído para 50% do que tinha sido previsto inicialmente (PINTO, 1999).


Hoje existem em Belo Horizonte 28 Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV) e 3 unidades de reciclagem dos Resíduos Classe A. Uma delas, inaugurada em 2006, permite separar os agregados reciclados de acordo com a granulometria, ampliando as possibilidades de uso deste agregado. O RCD captado nas Unidades de Recebimento é encaminhado para as estações de reciclagem, onde são selecionados, descontaminados, triturados e expedidos. O agregado reciclado é utilizado principalmente como base e sub-base de pavimentação.



Reciclagem de RCD no Brasil O Caso de Belo Horizonte - MG
Estação de Reciclagem “Estoril”.

O Caso de Ribeirão Preto - SP

Em 1995 a cidade de Ribeirão Preto desenvolveu o Programa para Correção Ambiental e Reciclagem dos Resíduos de Construção que previa a implantação de catorze pontos de atração de resíduos em pequenos volumes, a incorporação de duas centrais de reciclagem e ações para recuperação e informação ambiental.

No ano de 1996 entrou em operação a primeira central de reciclagem, que depois de 32 meses de funcionamento, de acordo com Pinto (1999), sua produção permitiu a execução de 218.000m2 de pavimentação, o equivalente a 31km de vias.

Esta central, por ter sido a primeira a operar no interior de São Paulo, foi a fornecedora de RCD reciclado para estudos desenvolvidos na UNICAMP e na Escola de Engenharia de São Carlos, que contribuíram para a consolidação da tecnologia e disseminação de suas potencialidades.

Reciclagem em Obra

Além das iniciativas públicas e privadas já mencionadas, vale ressaltar a iniciativa de algumas construtoras com relação à reciclagem de resíduos classe A. Como exemplo, pode-se citar uma obra em São Paulo. Para a construção do novo empreendimento foi necessária a demolição de antigas edificações e pisos industriais em concreto. O foi reaproveitado como agregado para produção de concreto, blocos para alvenaria e pavimentação, e elementos pré-moldados.

Estas iniciativas não se limitam à região sudeste. Em Maceió e Salvador têm-se exemplos de construtoras que promovem a reciclagem de resíduos classe A em obra. Em Aracaju, foi conduzido um estudo pelo SENAI para utilização de uma recicladora móvel em obras da cidade. O resíduo classe A gerado é devidamente segregado, peneirado, triturado e o agregado reciclado é utilizado na produção de bloquetes para pavimentação e argamassa para assentamento de alvenaria, emboço e contrapiso.



Reciclagem em Obra
Recicladora Móvel em Utilização na Cidade de Aracaju.

Fonte do texto  e imagens:fieb.org.br/Adm/Conteudo/uploads/Livro-Gestão-de-Resíduos