30 junho 2017

EXEMPLO DE RACIONALIZAÇÃO EM CANTEIRO DE OBRAS

Este exemplo simples servirá como demonstração do potencial que muitas vezes se tem em mãos e raramente é utilizado.

Este caso refere-se ao estudo de um ciclo de fabricação (0,30m³), transporte e entrega do concreto estrutural na 5ª laje tipo de uma edificação. Tem-se 04 operários envolvidos neste processo:

• OP.1 g responsável pelo peneiramento, enchimento dos carros de mão e transporte da areia, brita e cimento até a betoneira e sua operação;

ciclo de fabricação (0,30m³), transporte e entrega do concreto estrutural na 5ª laje tipo de uma edificação.
EXEMPLO DE RACIONALIZAÇÃO EM CANTEIRO DE OBRAS

• OP.2 g também se ocupa com o enchimento dos carros de mão e transporte de areia e brita até a betoneira, além de carregar a jerica com o concreto misturado e transportá-la até o balde da grua;
ciclo de fabricação (0,30m³), transporte e entrega do concreto estrutural na 5ª laje tipo de uma edificação.
EXEMPLO DE RACIONALIZAÇÃO EM CANTEIRO DE OBRAS


• OP.3 g opera a grua; e
ciclo de fabricação (0,30m³), transporte e entrega do concreto estrutural na 5ª laje tipo de uma edificação.
EXEMPLO DE RACIONALIZAÇÃO EM CANTEIRO DE OBRAS


• OP.4 g está na laje e é responsável pelo recebimento do concreto no pavimento.

ciclo de fabricação (0,30m³), transporte e entrega do concreto estrutural na 5ª laje tipo de uma edificação.
EXEMPLO DE RACIONALIZAÇÃO EM CANTEIRO DE OBRAS


O ciclo a observar é concluído no momento em que o OP.4 descarrega o balde da grua na laje, neste instante iniciasse novo ciclo (que não será analisado neste momento).

Para facilitar o cálculo, podemos considerar que são necessários 3 carros de mão (CM) de areia, 3 CM de brita e 1 saco de cimento para a produção de um traço que representa o ciclo estudado; considerar também que o CM fica a uma distância de 2,50 m do depósito da areia e que são necessárias 4 pás para o enchimento de cada carro. No caso da brita o CM chega a uma distância de 2,00 m do depósito, não sendo necessário considerar o deslocamento do operário para carregar o carro de mão.

 Diagrama de Fluxo da Situação Observada
 Diagrama de Fluxo da Situação Observada
 Diagrama de Fluxo da Situação Observada

Em seguida define-se quantos observadores irão atuar, como registrarão as atividades dos operários e qual a unidade de tempo que será adotada. Neste caso, o ciclo se completa em aproximadamente 20 minutos, então escolhe-se períodos de 1 minuto para observação.
No FORM. 07 - Atividades Individuais registram-se as ações de cada operário nos intervalos de tempo definidos.

 Ficha de Atividades Individuais da Situação Observada.
 Ficha de Atividades Individuais da Situação Observada.
 Ficha de Atividades Individuais da Situação Observada.

Vemos que o ciclo se completou em um total de 21 minutos (será indicado no diagrama de balanço como representando 100%). É interessante observar que o ciclo para cada operário termina em tempos diferentes, pois lembremos que estamos observando o ciclo: produzir, transportar e entregar 1 betonada de concreto.

O operário 01 conclui seu ciclo no 20º minuto, pois a partir deste ponto será iniciado um novo ciclo de preparação da 2ª betonada; o operário 02 conclui no 21º minuto, o operário 03 no 21º (100% do ciclo) e o operário 04 também no 21º minuto.

A tarefa agora será transportar estes resultados para o FORM.08 - Diagrama de Balanço das Equipes. De modo a facilitar é importante criar uma simbologia de cores para cada atividade executada.

 Diagrama de Balanço da Situação Observada.
Diagrama de Balanço da Situação Observada.
Diagrama de Balanço da Situação Observada.

É possível identificar ao olhar para o gráfico, que o op.04 - espalhador de concreto tem um longo período de espera (13 minutos de um total de 21) do mesmo modo o op.03 - grueiro (15 minutos).

Vale observar que o op.04 no início do ciclo está em outras atividades, pois é provável que esteja espalhando concreto da betonada anterior e não faz parte do ciclo atual.

A próxima etapa será preencher o FORM.09 - Diagrama de Processos para que se possa identificar os totais das atividades.

Pensando exclusivamente no material areia, cimento e brita, observa-se que de uma forma geral têm-se as seguintes operações: carregar areia, carregar brita, carregar cimento, descarregar areia, descarregar brita, descarregar cimento, misturar, enchimento do balde da grua e descarregamento na laje (09 operações). É importante que observemos que para cada operação pode haver um desdobramento. Como é o caso do carregamento de brita e areia, que poderemos identificar o número de pás que serão necessárias para encher um carro de mão; suponhamos que sejam 04 pás de areia e 03 pás de brita. Esta  informação será importante na quantificação de homem x hora como veremos a seguir. Para preencher o FORM.09 temos que “criar” uma sequência, utilizando a simbologia definida na tabela 09.

• existe material estocado (areia, brita e cimento):

• o material é carregado até o carro de mão (areia e brita): g g

• o material é transportado até a betoneira (cimento, areia e brita):

• o material é descarregado na betoneira (cimento, areia e brita): g g g

• o material é misturado (concreto): g

• o material é descarregado na jerica (o concreto): g

• o material é transportado até o balde da grua (concreto):

• o material é descarregado no balde da grua: g

• o material e transportado pela grua até a 5ª laje:

Transferindo para o FORM. 09, temos:

 Diagrama de Processo da Situação Observada.
 Diagrama de Processo da Situação Observada.
 Diagrama de Processo da Situação Observada.

Observando-se apenas os deslocamentos do material, desde a sua chegada (como areia, cimento e brita) no canteiro de obras até sua entrega (já como concreto) na 5ª laje tipo (figura), podemos tirar algumas conclusões.

Figura  – Esboço dos Deslocamentos dos Materiais.
Esboço dos Deslocamentos dos Materiais.
Esboço dos Deslocamentos dos Materiais.

A primeira coisa que chama a atenção quando se coloca de forma representativa, é que o percurso é extremamente sinuoso e o mais curioso é que este aspecto nunca foi questionado nem pelos operários nem pelos chefes de equipe; começa-se a perceber que o transporte do cimento para a betoneira é feito com a “força dos braços“ com certo deslocamento que ao ser multiplicado pelo número de sacos de cimento (50kg) necessários para a execução de toda obra nos dá impressionantes distâncias e incrível peso transportado unicamente pela força humana.

Outro detalhe que chama a atenção é o fato de existir uma rampa de altura de 50cm para o carregador da betoneira que é percorrida pelo operário com o carrinho de mão carregado de areia e brita: mais uma vez nota-se que se multiplicar a altura de 50cm pelo número de vezes necessárias ao transporte de toda a areia e brita da obra chegar-se á a uma impressionante marca de altura percorrida pelo operário além de perceber que quase todo o peso próprio da edificação estará sendo carregado pelo operário em todo este percurso.

Com base nestas observações e sabendo-se que para a concretagem das oito lajes seriam necessários 430m3 de concreto, é possível concluir que:

• seriam gastos 47.031 minutos ou 783 horas;

• seriam percorridos 106 km pelo operário com o material para a produção, transporte e entrega do concreto para as 8 lajes; e

• seriam necessárias 22.844 operações.

Se considerarmos que destes 106km, 24km são referentes a 0,50m de desnível entre a cuba da betoneira e o nível do solo, aproximadamente 750 toneladas seriam erguidas com única e exclusiva força humana.

Com base em todas estas observações parte-se para um estudo de melhoria e a primeira ação seria tornar os percursos sinuosos em percursos retos, diminuindo assim as distâncias de transportes e invertendo-se as posições das baias. É necessário também instalar a betoneira de forma que seu carregador fi que ao nível do solo evitando assim a subida da rampa com o carrinho carregado além de aproximá-la da grua. Desloca-se da mesma forma o depósito de cimento para mais perto da central de betoneira; é bom sempre ter em mente que a economia ergonômica deve ser levada em conta sempre no planejamento, pois apesar de ser de difícil medição ela está presente nos custos produtivos.

Com todas as ações devidamente planejadas na etapa anterior, parte-se para a nova arrumação do canteiro que deverá ser registrada com novo layout e fotos para arquivo.

Procede-se a nova medição do processo com as alterações implementadas e verifica-se que a redução de tempo é significativa e o quanto representa esta redução em termos de percentuais de custo. A seguir apresenta-se o novo layout e as tabelas com os novos tempos e as reduções conseguidas.

 Diagrama de Fluxo da Situação Melhorada.
Diagrama de Fluxo da Situação Melhorada.
Diagrama de Fluxo da Situação Melhorada.

Com base no novo layout são feitas novas medições de tempo e atividades e estas são registradas no FORM. 07.

 Ficha de Atividades Individuais da Situação Melhorada.
Ficha de Atividades Individuais da Situação Melhorada.
Ficha de Atividades Individuais da Situação Melhorada.

Com as novas medições constatou-se que o tempo do ciclo foi reduzido de 21 para 13 minutos. Assim, elabora-se o novo diagrama de balanço de equipes para a situação melhorada.
 Diagrama de Balanço da Situação Melhorada.
Diagrama de Balanço da Situação Melhorada.
Diagrama de Balanço da Situação Melhorada.

Diagrama de Processos da Situação Melhorada.
Diagrama de Processos da Situação Melhorada.
Diagrama de Processos da Situação Melhorada.

Analisando as tabelas percebe-se claramente a redução no tempo do ciclo (de 21 minutos para 13 – 40% no total), nas distâncias percorridas pelo material, no deslocamento de material por força humana (de 112 Hm para 15 Hm – 87% no total) e no número de atividades (de 17 para 12 – 29%). Isto foi conseguido sem grandes investimentos, apenas com uma nova organização do canteiro, o que exigiu apenas um pouco do pensar. É preciso levar em conta que, além da empresa, o operário ganha ao despender menos esforço, conseguindo assim melhor desempenho e, com a aplicação das ferramentas de racionalização consegue-se reduzir a geração de resíduos devido à redução das perdas, que tanto contribuem para a o aumento do volume de resíduos.

Além das ferramentas já apresentadas existem algumas outras simples que podem ser aplicadas de forma eficaz auxiliando o processo de redução da geração de resíduos. Dentre elas podemos destacar o projeto, o planejamento e a organização do canteiro que veremos na sequência.
Fonte do texto:fieb.org.br/Adm/Conteudo/uploads/Livro-Gestão-de-Resíduos